Little Red Corvette 

Sim, obsceno é a palavra que estamos procurando para descrever o que foi feito aqui.

[ Meu Deus, Prince! Meu Deus Prince. ♥ ]

Ich bin der Welt abhanden gekommen

Que haja saúde e Mahler em 2016.

Iniciantes

“O que qualquer um de nós sabe de verdade sobre o amor?’, disse Herb. ‘Estou falando a sério mesmo, vocês me desculpem. Mas acho que a gente não passa do nível de iniciantes no amor. A gente diz que ama um ao outro, e amamos mesmo, não duvido disso. Nós nos amamos e amamos muito, todos nós. Eu amo a Terri e a Terri me ama, e vocês dois amam um ao outro. Vocês conhecem o tipo de amor de que estou falando agora. Amor sexual, a atração pela outra pessoa, o parceiro, conhecem tão bem quanto eu o tipo de amor simples e cotidiano. O amor carnal, então, e o amor sentimental, podem chamar assim o contato cotidiano com o outro.

Mas ás vezes eu me vejo em sérios apuros quando tenho de explicar o fato de que, afinal, eu devo ter amado também a minha primeira esposa. Mas eu amei, sei que amei. Portanto, acho que, antes que vocês possam dizer qualquer coisa, eu sou como a Terri nesse aspecto. Terri e Carl.’

Refletiu por um minuto e depois foi em frente. ‘Mas a certa altura eu achava que amava minha esposa mais que a própria vida, e tivemos filhos. Mas agora morro de ódio dela. Sério. Como é que a gente pode entender isso? O que foi que aconteceu com aquele amor? Será que aquele amor simplesmente foi apagado do grande quadro-negro, como se nunca tivesse estado lá, como se nunca tivesse acontecido? O que foi que aconteceu com ele, é isso o que eu gostaria de saber. Queria que alguém pudesse me explicar. Então tem o Carl. Ele amava tanto a Terri que tentou matá-la e acabou matando a si mesmo.’ Parou de falar e balançou a cabeça.”

trecho de “Iniciantes”, conto que dá nome ao aterrador livro do Raymond Carver, do qual destaco, além do conto que titula a obra, os angustiantes e terríveis, por motivos e tons muito diferentes, “Uma Coisinha Boa” e “Diga às mulheres que a gente já vai”.

The Worst

Faz um mês que o Glasper lançou disco novo — o Covered, com versões de canções de alguns de seus artistas preferidos gravadas ao vivo– e desde então eu tenho me segurado para não pirar muito e não passar pelo mesmo descontrole causado pelos Black Radio 1 e 2. 

Não consegui, de modo que vamos celebrar um dos meus xodós do álbum: a versão de “The Worst”, da Jhené Aiko, em que é fácil notar o toque de Midas do Glasper, um dos maiores seres humanos vivos.

Another Life

Que retorno.

Lolita on Humbert’s Lap

Para celebrar o aniversário do Morricone, uma das minhas canções preferidas da minha trilha sonora mais querida de todas.

A Tabela Periódica

“Não tínhamos dúvidas: seríamos químicos, mas nossas expectativas e esperanças eram diferentes. Enrico pedia da química, razoavelmente, os instrumentos do ganho e de uma vida segura. Eu pedia outra coisa: para mim a química representava uma nuvem indefinida de possibilidades futuras, que envolvia meu porvir em negras volutas laceradas por resplendores de fogo, como aquela nuvem que ocultava o Monte Sinai. Como Moisés, daquela nuvem esperava minha lei, a ordem em mim, em torno de mim e no mundo.

Estava saciado de livros, que no entanto continuava a engolir com voracidade indiscreta, e buscava uma outra chave para as verdades supremas: uma chave devia existir, e estava certo de que, por alguma conspiração monstruosa em meu prejuízo e no do mundo, não a obteria da escola.

Na escola me ministravam toneladas de noções que digeria com diligência, mas que não me arrebatavam. Via incharem-se os brotos na primavera, luzir a mica no granito, via minhas próprias mãos, e dizia para dentro de mim: ‘Compreenderei também isto, compreenderei tudo, mas não como eles querem. Encontrarei um atalho, farei uma gazua, forçarei as portas.’

Era enervante, nauseabundo, escutar discursos sobre o problema do ser e do conhecer, quando tudo em torno de nós era mistério que lutava por desvelar-se: a vetusta madeira dos bancos, a esfera solar acima das vidraças e dos telhados, o voo inútil das lanugens de sementes no ar de junho. Pois é: todos os filósofos e todos os exércitos do mundo seriam capazes de construir esse mosquito? Não, e nem mesmo compreendê-lo: isso era uma vergonha e uma abominação, era preciso encontrar um outro caminho.”

trecho do absolutamente maravilhoso A Tabela Periódica, do Primo Levi, que eu mal posso acreditar que tenha demorado tanto a ler e fortíssimo candidato a melhor livro do ano.