Pequeno-Burgueses

Tiêteriev: (Calmamente) Não grite, velho! Você não pode expulsar tudo que vai contra a sua vontade…E não se aflija.. O seu filho vai voltar…

Bessiêmenov: (Rapidamente) Mas…como você sabe?

Tiêteriev: Ele não vai muito longe de você. Ele subiu momentaneamente, foi arrastado para lá…Mas ele vai descer… Você vai morrer, ele vai reformular um pouco esse chiqueiro, vai trocar a mobília e viver, assim como você, de maneira tranquila, sensata e confortável…

Pertchíkhin: (Para Bessiêmenov). Está vendo? Seu bobo! Seu apressado! Ele aqui desejando o seu bem… Dizendo palavras amigáveis para consolá-lo… e você aí berrando! O Teriênti, irmão, é um homem sábio…

Tiêteriev: Ele vai trocar a mobília e viver com a certeza de que seu dever perante a vida está cumprido. Afinal, ele é exatamente igual a você…

Pertchíkhin: Tal e qual!

Tiêteriev: Exatamente igual…Covarde e tolo…

Pertchíkhin: (Para Tiêteriev) Espere! O que você disse?

Bessiêmenov: Você… fale direito comigo, não me insulte assim… não ouse!

Tiêteriev: E quando chegar a vez dele, será tão avarento como você, presunçoso e cruel. (Pertchíkhin olha admiradamente para o rosto de Tiêteriev, sem entender se ele está tentando confortar o velho ou insultá-lo. No rosto de Bessiêmenov também se percebe perplexidade, mas a fala de Tiêteriev o interessa.) E até mesmo infeliz ele será como você está agora…A vida segue em frente, velho. Quem não consegue acompanhá-la acaba ficando sozinho…

Pertchíkhin: Viu? Ouviu? Pelo visto tudo vai sair do jeito que tem que ser … e você aí irritado!

Bessiêmenov: Pare, me deixe em paz!

Tiêteriev: E da mesma maneira não terão piedade de seu infeliz e lamentável filho, e vão dizer a verdade na cara dele, assim como eu estou falando para você: ‘A troco de que você viveu? O que fez de bom?’. E o seu filho, assim como você agora, não vai ter o que responder…”

Górki, totalmente ácido e lúcido, pondo o dedo na ferida, no belo Pequeno-Burgueses.

Pequeno-Burgueses

“Em seu artigo intitulado ‘Notas sobre a mentalidade pequeno-burguesa’, Górki escreve que esta mentalidade consiste de

‘uma estrutura da alma do atual representante das classes dominantes. As principais particularidades da alma pequeno-burguesa são: um senso de propriedade distorcido, um desejo tenso de que sempre haja tranquilidade dentro e fora de si, um medo intenso diante de qualquer coisa que possa, de uma forma ou de outra, perturbar esta tranquilidade; e uma aspiração, persistente, de poder encontrar uma explicação para tudo aquilo que venha a oscilar este equilíbrio que se estabeleceu na alma, ou que possa destruir os pontos de vista, já estabelecidos, sobre a vida e as pessoas.”

trecho da introdução, de Elena Vássina, a Pequeno-Burgueses, peça absurda e atemporal do grande Górki.