Epicteto e a Sabedoria Estoica

“O curso de Epicteto não será feito com trechos de referências e de citações, provavelmente ele não satisfaria nossos critérios universitários, e por uma razão simples: explicar o texto pelo texto, ressaltar as estruturas profundas, colocá-lo em relação com obras paralelas, situá-lo na trajetória do autor, tudo isso lhe teria parecido forte inutilidade.

A única coisa que conta é compreender o que diz o autor para assimilar a lição que ele nos transmite, retirando o que de melhor pudermos compreender para nós mesmos. Quando o discípulo explica Crisipo o que importa é o discípulo. Não se trata de propor análises brilhantes e originais, de renovar a abordagem de autor, mas de tomar uma página como porta de entrada em uma doutrina cuja razão é nossa transformação. Não se trata, portanto, de procurar a virtuosidade, mas de se entregar a uma espécie de experiência espiritual. Um trabalho de pura inteligência seria absolutamente vão.

Epicteto insiste na inutilidade de uma reflexão filosófica que não implique a pessoa em sua totalidade. A filosofia não é uma massa de informações que se acumula, que se organiza intelectualmente, ela tem que ser digerida e não amontoada. Não se trata de fazer filosofia, mas de ser filósofo. Não seria um absurdo meditar sobre o bem e o mal se tal meditação não servisse para a realização do bem? A filosofia não está, portanto, nos livros, eles são apenas um meio. A erudição pura não tem sentido.”

trecho de Epicteto e a Sabedoria Estoicado Jean-Joël Duhot, leitura obrigatória pra quem se interessa pelo queridíssimo pessoal do Pórtico.