Para Zara

“Zara,

Antes de tudo, devo esclarecer que não há nenhuma relação entre o título da obra e o meu ‘estado de espírito’ …

Espero que goste (não conheço essa tradução) e que o “abandonado” seja um bom companheiro de viagem.

Com carinho,

José Martins Costa”

dedicatória do exemplar de O Abandonando e Outros Contos, do Guy de Maupassant, pego emprestado na biblioteca pública estadual.

José, caso você leia isso, o Abandonado está sendo um ótimo companheiro de viagens. Espero que a sua Zara/Sara tenha voltado rápido para você.

Um coração simples

 

“Por não se comunicar com ninguém, vivia em um torpor de sonâmbulo. As procissões de Corpus Christi reanimavam-na. Ela ia até os vizinhos pedir tochas e esteiras para embelezar os andores que passavam na rua.

Na igreja, sempre contemplava o Espírito Santo observava que nele havia algo de similar com o papagaio. A semelhança pareceu-lhe ainda mais evidente em uma imagem de Épinal representando o batismo de Nosso Senhor. Com as asas de púrpura e o corpo de esmeralda era realmente o retrato de Lulu.

Tendo-o comprado pendurou-o no lugar do conde de Artois – de maneira que, com um só olhar, via-os juntos. Associavam-se em seu pensamento, o papagaio santificado pela relação com o Espírito Santo, que por sua vez se tornava mais vivo a seus olhos e inteligível. O Pai para expressar-se não deveria ter escolhido uma pomba, uma vez que esses animais não têm voz, mas antes um dos ancestrais de Lulu. E Felicidade fazia suas preces olhando a imagem mas, de vez em quando, virava-se um pouco em direção ao pássaro.”

 

trecho do lindo, lindo “Um Coração Simples”, de Três Contos. Flaubert, querido, vai escrever assim na PQP, OK?

A questão é: os outros dois contos manterão o nível? A ver.