Sobre a tagarelice

“É delicado e difícil para a filosofia empreender a cura da tagarelice. Pois seu remédio, a palavra, é feito para aqueles que ouvem, e os tagarelas não ouvem ninguém, já que estão sempre falando. Eis o primeiro mal contido na incapacidade de ouvir. É uma surdez involuntária, de homens que, suponho, censuram à natureza o fato de terem apenas uma língua, embora tenham duas orelhas.

Se Eurípedes realmente fez bem de dizer a um ouvinte imbecil: ‘Eu não poderia encher o que nada segura, vertendo palavras sábias num homem sem sabedoria’, seria ainda mais apropriado dizer ao tagarela: ‘Eu não poderia encher o que nada recebe, vertendo palavras sábias…’, ou antes inundando de palavras um homem que fala aos que não o ouvem e não ouvem os que lhe falam. Pois se chega a ouvi-los brevemente, como no refluxo de sua tagarelice, ele devolverá o cêntuplo em seguida.”

Plutarco,  mestre demais, em “Sobre a Tagarelice”, lido no ano passado e desde então no coração.