Sete Vidas
23/04/2012 § Deixe um comentário
“Da janela de um prédio mais baixo, um menino solta pipa, um papagaio colorido de vermelho, azul e branco, com uma rabiola enorme como eu não via desde pequena. Com agilidade, o menino move a linha fazendo a pipa costurar o espaço, em pequenas curvas nervosas.
São esses movimentos rápidos que chamaram a atenção do gato. Excitado, ele corre pelo balcão e chega a por as patas dianteiras no parapeito, talvez analisando suas possibilidades. Mas logo para, percebendo que a presa é inalcançável. E, algum tempo depois, volta a sentar-se. Desistiu.
Agora, adormeceu. Está deitado de lado, com os olhos fechados, relaxado. Apenas seus bigodes se movem de vez em quando, os fios compridos captando alguma coisa, como antenas. Logo, começa a franzir o focinho, remexe-se um pouco, mas continua dormindo. Acho que está sonhando. Outro dia os cientistas descobriram que os ratos sonham como nós, sonhos longos, com enredo, emoção – prazer e medo. E os sonhos dos gatos, como serão?
Com o que sonha meu gato?
Com seu pássaro-pipa, na certa. Com alguma presa inalcançável e fugidia que, por isso mesmo, é sua maior fonte de desejo. Ele é como todos nós.”,
trecho de “O gato e a pipa”, do bonitinho Sete Vidas – Sete Contos Mínimos de Gatos, da Heloísa Seixas, a única coisa boa de um dia de todo ruim.
Deixe um comentário